Diante de um grande camarim, a artista espera o momento para entrar em cena e viver sua primeira personagem. Ela discute com o espelho, fala com ‘seus botões’ como costumam dizer por aí. Conversa consigo mesma. “O mais engraçado é que nessa vida tudo parece igual, mas não é. O trabalho parece sempre o mesmo: discute, experimenta, estuda o texto, ensaia, todo dia a mesma coisa, exatamente a mesma coisa.”, reflete.
Todo dia ELA É A MESMA. Todo dia, A MESMA?
Diante de seus questionamentos, chega a uma certa conclusão: “Não, nascem tantas outras.” E continua, já um pouco mais incomodada: “Por que você fala assim comigo? Não pára de me perseguir. Eu ainda não achei uma boa resposta para aquela pergunta que você me fez ontem. Mas, certamente, eu vou encontrar.”
Toda vez que ela está prestes a subir no palco, vive e revive tudo o que sentiu na primeira vez que esteve diante de uma plateia. Persona. Ela aquece o corpo, tira a sua roupa e veste a roupa de quem? Dela, persona.
Passa a eliminar todo e qualquer resíduo de maquiagem ou acessório que seja dela. Preparativos, figurino, caracterização e a partir daí passa a existir em corpo e alma por ela, por essa outra persona...
Aquece a voz, aquece mais uma vez o corpo. Orações são sempre bem vindas nesse momento. Ela faz tantas... Ela faz todas!
Aos poucos ela vai ganhando forma e vida, ganhando volume, ganhando voz. O corpo físico e mental se misturam para atingir a criação cênica. Fé, jogo, concentração, movimento. Ela, o outro. A outra. Há outra. "Façamos um teste: Ah, ah..." Ela pratica apenas mais um exercício para aquecer a voz.
Neutralidade, calma... Primeiro sinal. E toca o alarme. Toca o alarme do coração dela. Neutralidade? Isso existe? E você, persona? Você que aos poucos vai surgindo, crescendo, tomando conta do corpo dessa atriz.
“Por que você continua a falar assim comigo? Você faz meu coração bater tão forte, tão intenso”, reflete, continuando na tentativa de responder uma pergunta que ela mesma criou...
Prestes a entrar em cena, passo a passo, ela sabe de tudo, mas parece não saber de nada neste momento. Se posiciona e olha lá no fundo. Passa a ser ela.
“Ela está aqui...” Terceiro sinal. O seu corpo já excitado busca o seu objetivo, sua voz, percorre o íntimo buscando lugar para ser ouvida. Olha para dentro de si, olha nela.
Durante toda essa adrenalina, de brincar de faz de conta, ela, ao entrar em cena, acredita que encontrou a resposta para a sua pergunta, a pergunta que faz para si mesma, todos os dias...
“ A resposta é eu. Como? Eu.”
“Qual o personagem que tenho mais medo de ser? EU.”
Ela sorri e passa a ser outra. Todas as outras.
Ela sorri e passa a ser outra. Todas as outras.
Eli, estar no palco tem a mesma atitude de que devemos ter no dia a dia. Tomando cuidado, tendo medo, respirando profundamente e com muito cuidado vamos enfrentando o que o dia nos traz, ou seja, você é o protagonista da sua vida ou coadjuvante?
ResponderExcluirFernanda
Olá,
ResponderExcluirBem, meus textos não são auto-biográficos, quer dizer, nem sempre. Qual Fernanda que escreveu? rsrs. Bem, se isso é uma pergunta, da minha vida eu sou protagonista. SEMPRE.
Embora protagonizar também faz parte, isso significa amadurecimento. Estamos sempre nos movimentando.
Beijos e obrigada por comentar e por ler as minhas loucuras.
Eli.
Parabéns! Esse texto ficou ótimo!!!
ResponderExcluirNossa vida, tantos cenários, tantos papéis... e o personagem mais complexo e bem construído de todos é o da nossa própria existência.
E assim, como você diz, fecham-se as cortinas de mais um dia. Porque amanhã já tem um novo espetáculo. Até!